Mobilidade extrema e gadgets multifunção começam a tornar obsoletas tecnologias a que nos habituamos
RIO - Antes, era só o PC e seu usuário. Aí veio o celular e aos
poucos embaralhou as cartas, transformando-se ele mesmo em computador. A
internet transformou o que era local em global, associando-se depois à
mobilidade de tal forma que pôs todos os dados em nossas mãos,
especialmente após a chegada dos modernos tablets e smartphones. O
resultado é que muitas tecnologias a que estávamos acostumados há tempos
podem não mais existir daqui a pouco mais de uma década. O site “The
pulse of mobile tech” lista algumas delas: discos ópticos (CDs, DVDs
etc), câmeras digitais independentes, impressoras jato de tinta,
telefones fixos, discos rígidos mecânicos, mouses, teclados, e até mesmo
o próprio PC de mesa como o conhecemos. O GLOBO ouviu especialistas em
tecnologia para conferir se estamos mesmo nesse caminho.
Para
Antonio Kleber de Araújo, consultor e especialista em gerenciamento do
conhecimento, a noção de que parte das mídias físicas estava condenada a
desaparecer veio quando percebeu que sua coleção de filmes em
videocassete começava a mofar.
— Pensei: “está na hora de botar tudo em DVD” — conta. — Foi quando
deparei com minha neta Ana Flor, de quatro anos, recostada no sofá,
“folheando” num tablet o catálogo virtual de filmes da Netflix — conta. —
Foi então que percebi que não faria sentido passar meus filmes para uma
mídia física, já que eles estavam na nuvem.
Para Araújo, hoje se
vive a era do usuário, e o usuário quer serviços, e não ter que lidar
com a tecnologia com muitas firulas. Daí a gradual virtualização dos
arquivos, que começam a ficar mais na nuvem do que num computador local.
—
Em última análise, aquele PC com teclado e mouse vai se desagregar:
teremos uma tela e o usuário interagindo com ela, não importa se for um
tablet, smartphone ou smart TV — diz.
David Svaiter, diretor da
Tantum Computing e veterano da segurança da informação, vai mais além.
Acha que até as telas de toque (touch screens) de hoje estão condenadas.
—
Não só o teclado e o mouse vão ser ultrapassados, como o touch será
desnecessário com o avanço do reconhecimento de fala — aposta Svaiter. —
Conseguiremos de fato conversar com os gadgets, e eles terão
inteligência suficiente para interpretar os termos de nossa conversação e
nos oferecer o que precisamos.
Alguns números apoiam a ideia de
que os discos ópticos podem ser abandonados. Segundo a NPD Research, a
aquisição de videogames nos Estados Unidos no segundo trimestre deste
ano através de recursos virtuais como assinaturas on-line, downloads,
títulos sociais etc já passou a compra via mídias físicas, como CDs e
DVDs — R$ 1,47 bilhão contra R$ 1,38 bilhão. A preferência por conteúdos
digitais e virtuais aumentou 17% em relação ao mesmo período de 2011.
Telefonia fixa cai em desuso
O
telefone fixo também corre o risco de virar peça de museu. Se bem que
ele tem uma vantagem em relação aos modernos celulares: está cada vez
mais barato (enquanto os smartphones top de linha ficam perto dos R$ 2
mil), além de ser ofertado junto com serviços de internet banda larga.
Mesmo assim, números recentes da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) mostram que, mesmo tendo crescido de 42 milhões para 43,4
milhões, as linhas de telefone fixo instaladas no Brasil ainda são
apenas um sexto dos celulares no país, que chegaram a 257,9 milhões.
—
Não é que a telefonia fixa vá sumir, mas seu papel estará mais voltado
para garantir a infraestrutura de dados da internet — diz Daniel
Schwabe, professor do Departamento de Informática da PUC-Rio. — O que eu
acho que vai sumir muito mais rapidamente, inclusive em menos de dez
anos, são os discos rígidos magnéticos, com os SSDs (solid state drives,
discos rígidos sem partes móveis).
Outra tecnologia que não
deveremos ver muito à frente é a da velha impressora de jato de tinta.
Recentemente, aliás, a Lexmark abandonou a fabricação desse tipo de
modelo.
— Esta é uma tecnologia que já foi ultrapassada pela impressão a laser — afirma Ricardo Karbage, presidente da Xerox Brasil.
Segundo
Armando Zagalo de Lima, presidente mundial do Grupo de Tecnologia da
Xerox, os tablets e smartphones puseram a impressão doméstica e
individual sob grande pressão.
— Essa revolução começou de fato
com a Apple, e mudou a maneira como lidamos com a impressão — Continuará
havendo necessidade de imprimir, mas através da mobilidade. Por
exemplo, através de “pontos” de impressão sem fio (via Wi-Fi) em
ambientes públicos ou de trabalho, como já ocorre em nossa cliente
Procter & Gamble.
Funções que já aparecem em gadgets iOS ou
Android, por exemplo, também ficam em perigo em aparelhos apenas
dedicados a elas. Um prognóstico da IC Insights diz que em 2015 serão
vendidos 1,5 bilhão de smartphones com câmera de 3 megapixels ou mais,
contra 144 milhões de câmeras digitais convencionais. Hoje, a relação
está de 495 milhões de cameraphones contra 137 milhões de câmeras.
—
Ninguém mais quer usar uma câmera que apenas tira fotos. O mesmo começa
a se dar com os controles remotos, embutidos em apps de tablets e
smartphones — diz Araújo.
Araújo lembra que, assim, como os
economistas dizem que a inovação constante era fundamental para a vida e
a manutenção da competitividade das empresas, o mesmo se aplica a
nossas vidas.
— Devemos observar as novas gerações e abraçar a maneira mais despojada como lidam com a tecnologia.
http://oglobo.globo.com/tecnologia/contagem-regressiva-para-extincao-6177928
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